domingo, 24 de fevereiro de 2013

Vinho tinto ou branco?

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Vinho tinto ou vinho branco. Era essa a dúvida dele. No corredor do supermercado analisando as opções de vinho na prateleira. Eis que algo lhe chama a atenção. Um vulto de canto de olho. Ele vira o rosto para olhar melhor. Ela vestia um sobretudo preto. Cabelo solto, comprido e negro. Quase não contrastava com o sobretudo. Ela pegava uma garrafa de água qualquer. Apressada. Sem nem olhar o preço. O rapaz admirado continuava em sua dúvida do vinho.
Resolveu observar a moça a distância. Curioso com a pressa que ela demonstrava, mas principalmente com a atração que ela lhe despertava. Era como se ela conhecesse o supermercado por completo. Ela não olhava para as prateleiras. Passava rápido pelos corredores jogando as coisas para dentro do carrinho de compras. Ela foi para a fila do caixa e ele foi terminar suas compras.
Quando saiu do mercado, para a surpresa do rapaz, ela estava à porta parada. Chovia. Ela estava inquieta. Olhava as horas no celular e batia o pé no chão. O rapaz resolveu brincar para chamar a atenção dela.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Diálogo de Reencontro - Capítulo 05

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- Você o ama?
- Ele me faz bem. Tem me ajudado a cuidar da minha mãe. É trabalhador. Esforçado.
- Você o ama?
- Ele me apoia na minha carreira. Cuida de mim quando fico mal. A família dele gosta de mim. Minha mãe gosta dele.
- Você o ama?
- Ele tem me feito bem. Ele me escuta e deixa eu cuidar dele. Gosto de quando estamos juntos. Ele tem me ajudado com os preparativos do casamento também. É sempre carinhoso comigo. Sempre me dá atenção.
- Por que é tão difícil você me responder se o ama ou não?! Sim ou não? Falar bem dele ou do relacionamento de vocês não responde a minha pergunta.
- Por que você quer saber isso?
- Porque é isso que me interessa saber. É com isso que me preocupo. Legal que ele lhe ajude com as coisas e lhe apoie. Mas, para mim, isso não é mais que a obrigação dele, já que é seu noivo e futuro esposo.
- Não precisa me responder assim.
- Desculpa se soou de maneira grosseira. Mas, o que me interessa saber é o que se passa aí dentro desse coração, My Lady. Se não deseja me responder simplesmente me diga "Não é da sua conta." ou "Você não tem nada a ver com meus sentimentos por ele". Qualquer coisa. Mas, não tente me enrolar. Por favor.
- Não estou tentando lhe enrolar.
- Então me diz... sim ou não?
Nesse momento uma chuva sem garoa chega com força. Como uma tempestade de verão. Mas, os dois continuam parados. Olhando fixamente um nos olhos do outro. Não correm para se proteger da chuva. Não falam uma palavra se quer. Eles não se lembram nem da última pergunta que havia sido feita. Na mente de cada um deles só passa um filme. Cada um vê um filme diferente das vezes que tomaram banho de chuva juntos. Na cabeça dele, um filme de cada vez que agarrou de surpresa e a beijou debaixo da chuva. Na cabeça dela, um filme sobre cada vez que ele a abraçou e disse no pé do ouvido para não se preocupar, pois ele iria protegê-la da chuva e de todo o resto.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Será que o trem já partiu?

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Hoje é daqueles dias estranhos. Eu fico aqui com esse meu desejo louco por um abraço. Mas, um abraço de verdade, daqueles que me acalma, me faz sentir seguro, me faz sentir bem. Ou talvez, eu só precise de colo. Debruçar a cabeça sobre o colo de uma menina e descansar enquanto ela me faz um cafuné. Parece idiotice, porém isso me faz tanta falta.
As noites são tristes, eu abraço um travesseiro para dormir, pois não tenho ninguém ali comigo. Talvez seja só carência, mas a sensação é de abandono. Já tive tantos amigos que hoje me pergunto se realmente tive amigos. Cada um tem a sua vida, e talvez eu em minha carência cobre demais das pessoas que eu gosto, esperando delas aquilo que me falta sendo que elas não tem obrigação nenhuma para comigo.
Eu só queria me reencontrar. Ter alguém para partilhar um abraço. Alguém para passar o final de semana, fosse em casa ou numa ida rápida a praia, na esperança de encontrar um pouco de sol.
E pensar que um dia tive alguém que estava disposta partilhar tudo comigo. Mas, ela se cansou de mim. O que será que fiz de errado?! Será que exige demais dela, como penso exigir dos meus amigos. Será que ainda tenho alguma chance de me reencontrar comigo mesmo na companhia de alguém?! Ou será que o trem passou e eu fiquei para trás de vez?!




Talvez eu possa ir caminhando.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sonho de Voo

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"Atenção senhores passageiros, última chama para o vôo 237 da Swissair com destino a Barcelona", anunciou o alto-falante do aeroporto. O rapaz cochilava profundamente sentado no banco segurando sua bagagem. Ele perderia o voo se continuasse a dormir. Até que ele sente algo bater em sua cabeça e desperta com a pancada. Uma mochila que passava apressada o acertou. Ele ameaça um pequeno rangido de dor, mas é contido por uma voz doce que diz:
- Perdão, rapaz! Estou atrasada. Meu vôo está partindo. - respondeu a moça sem parar de correr ou olhar para atrás.
- Está indo para onde?
- Para Barcelona.
- Putz! É meu voou, também!

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Diálogo de Reencontro - Capítulo 04

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- Irônico, não?!
- O quê?
- As suas velhas cartas eu passei madrugadas relendo, ainda tenho cada carta da época que namorávamos. Enquanto as cartas, que lhe escrevi nesses anos fora do país, nunca saíram dos envelopes.
-Ah, mas é diferente...
- Relaxa, não estou lhe julgando. Foi apenas um comentário.
- Ok. Se você diz.
- Sabe qual o melhor presente que já ganhei de uma menina?
- Não.
- Certeza?
- Sim.
- Então deixa quieto. Talvez eu que ache importante demais. Devaneio meu.
- Já estamos aqui. Conte-me que tal presente é esse.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Como eu vejo o amor?

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- Vô, o senhor ama a vovó?
- Eu amo e muito a sua avó, meu neto.
- Mas, vô, como eu vejo o amor?
- Logo irão lhe ensinar na escola que o amor é classificado como um substantivo abstrato. Sendo assim, é algo que não se pode ver ou pegar. O amor, meu neto, a gente sente! Porém, confesso que uma vez, uma única vez, eu vi o amor…
- Conta, vô! Por favor! Me conta como você viu o amor! Onde o senhor estava? Como o senhor sabia que o que via era o amor, se o senhor acabou de dizer que ele é abstrato.
- Calma… Calma que o vô conta. Enquanto refresco minhas lembranças, busca aquela almofada para mim.
O netinho buscou e entregou a almofada ao avô, que se ajeitou e agradeceu ao menino.
- Já te contei que quando eu era moço morei um tempo fora do Brasil?
- Não.