- Eu amo e muito a sua avó, meu neto.
-
Mas, vô, como eu vejo o amor?
- Logo irão lhe ensinar na escola que o amor é classificado
como um substantivo abstrato. Sendo assim, é algo que não se pode ver ou pegar.
O amor, meu neto, a gente sente! Porém, confesso que uma vez, uma única vez, eu
vi o amor…
-
Conta, vô! Por favor! Me conta como você viu o amor! Onde o senhor estava? Como
o senhor sabia que o que via era o amor, se o senhor acabou de dizer que ele é
abstrato.
- Calma… Calma que o vô conta. Enquanto refresco minhas
lembranças, busca aquela almofada para mim.
O netinho buscou e entregou a almofada ao
avô, que se ajeitou e agradeceu ao menino.
- Já te contei que quando eu era moço morei um tempo fora do
Brasil?
- Então, isso daria outra história, mas fica para outro
dia. Eu saí viajando e conhecendo muitos lugares diferentes. Parava sempre em
cidades diferentes e trabalhava em algum canto que conseguisse um emprego, nem
que fosse em troca de um lugar para dormir e comida. Numa das cidadezinhas que
parei. Havia uma praça principal na qual ficavam os comércios da cidade.
Naquela praça costumava ficar um homem de uns quarenta anos que tocava sanfona
para ganhar algumas moedas. Eu trabalhava numa lanchonete onde eu juntava algum
dinheiro para viajar para outra cidade. Quando saía da lanchonete, gostava de
sentar num banco da praça para ver o por do sol e o movimento da cidade.
Aconteceu que num daqueles fins de tarde, comecei a reparar num casal de idosos
que passava. Eles sorriam e andavam de mãos dadas. Eles ouviram o som da
sanfona e foram de encontro ao som. Eu fiquei só observando. O casal começou a
dançar no meio da praça, ao som da sanfona. No ritmo deles. Sorrindo e rindo.
Foi ali, meu neto, foi ali que eu vi o amor! Na afeição que eles demonstravam
um pelo outro. O carinho que existia entre os dois. Não se preocupavam com
nada que não fosse ser feliz e fazer o outro feliz. Quando eles pararam de
dançar, fui até eles para conversar e mostrar minha admiração. Eles me
convidaram para um café, que eu rapidamente aceitei. A harmonia que eles
transmitiam era única. Passei horas e horas conversando com eles, falando da
vida e do mundo. Quando perguntei há quanto tempo eles eram casados. Tive uma
surpresa, imaginei que a resposta seria o número de anos. Mas, não! O senhor
disse “Há três filhos e cinco netos, eles são o nosso casamento, nós dois somos
apenas um casal de namorados”. Ali, meu neto, ali se via o amor. Ali eu vi o
amor!
- Se você não se preocupar com isso, mas em ser feliz.
Aposto que um dia você estará desfilando amor com sua namorada.
Nesse instante a avó entra na sala e os interrompe.
- Hey, vocês dois chega
de história e venham tomar o lanche da tarde. Acabei de assar aquele bolo de
chocolate que vocês adoram.
O netinho saiu correndo para cozinha.
Enquanto o avô, calmamente foi até a sua senhora. Ele a beijou e a tomou pela mão.
Num gesto de carinho, a avó disse no ouvido do avô:
- Você realmente admirava
os meus avos, senhor viajante.
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